[sexta-feira, setembro 17, 2004]
A razão pela qual não tenho escrito aqui ultimamente é muito clara para mim, embora não deseje compartilhá-la no momento. Custa-me escrever mais que um ou dois parágrafos. Muitas coisas aconteceram, é verdade. Muitas delas poderiam estar aqui. Elas me tomariam um livro. Mas tais coisas sabem que não merecem ser ditas e muitos dos que me conhecem o bastante saberão que prefiro assim também. Por que não há nada a ser dito que não tenha antes cruzado meu pensamento e por que um silêncio compreensivo é o melhor que posso esperar agora. Pensei em desistir de uma boa porção de coisas, quase num movimento generalizado. Mas percebi que a minha noção de lealdade, algo quase próximo da teimosia de uma mula, jamais deixaria que eu fizesse algo assim, pelo menos, não tão rápido. Ao longo da minha vida tive sérios problemas relacionados ao fato de sempre guardar a verdade para mim mesma, partindo do pressuposto de que meus problemas são meus e de mais ninguém (aliada a uma crença inocente de que os outros não seriam manipuláveis e que tenderiam inevitavelmente a ver o lado correto). Então ficava calada, enquanto as contrapartes gritavam, choravam, se lamentavam sobre seu sofrimento. Resumindo: ser um chorão, apesar de nada elegante ao meu ponto de vista, faz com que você pareça ter a razão. Não existe ditado mais certo do que quem cala consente. Por outro lado, me nego veementemente a bancar a vítima, evitando certos modelos familiares que me causam ânsia de vômito todos os dias, nunca perdendo a capacidade de me fazerem surpreender com a baixeza de certas atitudes. Mas isso é pura digressão, não faz parte do presente. E se não falo nada agora talvez seja por que não quero lembrá-las mais que o necessário e por que não estou com o espírito para tornar lamúrias dignas de riso. Poderia dizer algo de bom então, mas já notaram como a felicidade precisa de muito menos palavras para ser dita? Ela não precisa de justificativas. Falar da felicidade é já tirar-lhe um pouco da beleza. É correr o risco de tornar banal um sentimento tão complexo que necessitaria de analogias mil para se tornar alcançável pelo outro, e ainda assim, ele não o sentiria e sim a analogia. Isso me lembra uma vez que escrevi um texto sobre o assunto, para uma aventura de RPG precisamente. Não sei se alguém entendeu, mas me rendeu uma bela cena dramática. E se os outros jogadores não puderam responder a isso, pelo menos reconheceram que tentei discorrer sobre algo tremendamente difícil: É possível compartilhar a beleza do que se vive com o outro? (Mais que uma questão, isso é quase a essência do Yaoi, não acham? Ou pelo menos, é o que EU vejo. Toda aquela corrida para ficar próximo da única pessoa que, em um certo sentido, é capaz de ver o mundo pelos seus olhos... e amar isso. É o brilho de toda a crença romântica, e admiro intensamente aqueles que podem vivê-la) Se puder encontrar o papel onde escrevi, quem sabe um dia reproduzo o discurso aqui. Sinto falta daquele personagem, com quem não pude mais jogar. Não por que ele fosse simplesmente divertido, mas por ser a materialização (se é que se pode usar esse termo para algo fictício) de que o melhor de nós, inexpressível na realidade, acaba encontrando lugar na fantasia. Exatamente como escrevi no meu primeiro post. Infelizmente, estou longe de acreditar, ou até que alguém me prove o contrário, de que a realidade é minimamente capaz de realizar esse ideal. Sou cética, objetiva, e no momento presente, pouco de esperança me resta. Esta semana, ao dar entrada no meu diploma, acabei dando de cara com longas filas, apinhadas de pré-universitários confusos (a ponto de pedirem informações até para as colunas do lugar) e empolgados. Que irônico. Eu lembrei o dia em que eu mesma estive no lugar deles. Assustada, mas feliz. E tive que lembrar que cinco anos passaram desde aquele dia, antes de dar trela para alguns rapazes que não deviam ter mais que 17. E como trocaria com eles um pouco daquela confusão, uma confusão cômica, cheia de expectativas, com a minha, que infelizmente sei exatamente o que me espera lá fora, embora ainda não saiba o que fazer com isso. Pelo menos, esse é o ponto em que percebo que algumas coisas acabaram, enquanto outras têm os dias contados. Algumas delas foram decisão minha, outras não. Quase caí no erro de ficar imaginando como seria a minha vida se tivesse feito diferente. Eu seria mais feliz? Talvez o meu EU de uma realidade alternativa possa responder (e gostaria muito de conhecê-la). Por agora me contento em saber que não estaria escrevendo aqui hoje e que não conheceria algumas pessoas e muitas coisas que adoro. O que para mim já é motivo suficiente para estar AQUI, nesta escolha. E voltando ao dilema entre discorrer sobre a tristeza ou a felicidade, por que fazer uma dicotomia afinal? Momentos como esse podem ser cheios de criatividade melancólica. E apesar de que ninguém entenda mesmo, foi bom terminar uma noite de insônia sentada no parapeito da minha varanda, sentindo o vento frio do nascer do sol e ouvindo "Dive to Blue" com um sorriso pensativo.
por Evergreen * 2:00 PM
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